E, quando não houver mais forças para a verdade, as mentiras serão o elixir para um envelhecer saudável. Quando a paz tornar nossas vidas monótonas, haverá guerra para trazer algum entretenimento.
O respeito cede espaço à indiferença. O amor, ao trabalho. O tempo torna-se um bem tão precioso, que estar vivo chega a parecer mínimo.
Transformamos nossos sonhos em suor que movem as engrenagens do mundo (dos outros, e não do nosso). Transformamos o brilho dos nossos olhos em rugas de preocupação. Sentimos saudades daquilo que ainda não vimos. Choramos com o filme que ainda não assistimos. Sofremos com o que está por vir. A vaidade e a melancolia povoam cada coração.
A felicidade beija nossas almas em lapsos, momentaneamente e de forma tão superficial quanto aquele beijo de despedida de alguém que vai perder o último ônibus. Costuma ser tão rápido, que não dá tempo nem de sentir a emoção.
Preocupamo-nos com o que vai acontecer. Indignamo-nos com o que ninguém vê. E a resposta para todos os problemas é sempre a pessoa mais próxima. Os calos não estão apenas em nossas mãos. Estão também em nossas cabeças, nos impedindo de pensar. Há calos em nossas pálpebras, nos impedindo de ver. Não há mudança, pois não existe esperança.
Não há revolução, pois não existe fé. Estamos todos à deriva dos monstros criados por nossos antepassados.
Sendo assim, a mesma pergunta se repete a cada amanhecer: qual o sentido disso tudo? Epifania, ao desejar mais do que aquilo que um dia irei viver.
• BAIXAR EP (2007)
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